Paul e Lee

Macau e Portugal, por estes dias, convergem no facto de se aproximarem, a passos largos, os actos eleitorais que vão definir os respectivos órgãos legislativos nos próximos quatro anos.
Estes são, por norma, períodos dados a alguns excessos de linguagem.
O problema surge quando esses excessos se repetem, denotando uma linha de pensamento e uma conduta que só podem entristecer quem fez desta terra a sua casa.
Vem este intróito a propósito do chorrilho de disparates proferidos pelo deputado Lee Chong Cheng numa coluna de opinião no jornal Ou Mun.
Lá estão os chavões todos ligados ao fantasma colonial.
Desta vez, o parlamentar, e candidato às próximas eleições nas listas da Associação Geral de Operários de Macau (AGOM), resolveu perorar sobre a área da Justiça e diagnosticar os males de que esta padece.
E lá veio a língua à baila.....
Julgo que o senhor deputado não tem formação jurídica.
No entanto, resolveu criticar a legislação em vigor no território, de caminho fazendo a apologia das leis que vigoram no Continente (que eu saiba não particulariza, nem num caso nem no outro) e pugnando por uma revisão legal porque "(...) é razoável e legítimo rever as leis que não estejam adaptadas às mudanças que ocorrem em Macau".
Mas alguém disse o contrário?
Mais, o senhor deputado refere que a Lei Básica não obriga à cristalização das leis em vigor.
Pois não senhor deputado, e é por isso é que têm sido revistas, às vezes até com demasiada pressa, mas isso é outra conversa.
O que a Lei Básica consagra é a manutenção do sistema jurídico vigente em Dezembro de 1999 por um período de 50 anos.
São coisas bem diferentes, mas enfim....
Se a conversa do senhor deputado fosse apenas reflexo do período eleitoral eu não ficava tão desapontado.
O pior é que não é assim.
Aquelas tolices são exactamente o que o senhor pensa e sente.
E vamos ver quantos votos lhe rendem.....
No mesmo jornal (Hoje Macau) um artigo pungente de Paul Chan Wai Chi, Presidente da Associação Novo Macau Democrático, também ele candidato às próximas eleições (não, não estou a manifestar a minha escolha eleitoral, só a observar a diferença de posturas, de mentalidades, de valores).
Cito Paul Chan Wai Chi quando escreve que "(...) ter medo é mais aterrador do que qualquer tortura imaginária já que o medo devora-nos o espírito e, tarde ou cedo, far-nos-á desistir ou sucumbir".
E acompanho-o totalmente quando, mais à frente, defende que "'Parar e pensar'. É isso o que um católico precisa de fazer de tempos a tempos. Com esta atitude, ganhamos outra consciência e outra compreensão do que devem ser as nossas tarefas ao longo da vida. Ajuda-nos a manter a fé e a sentirmo-nos destemidos à medida que fazemos o nosso caminho ravina abaixo (...)".
Nestes dois actores da cena política actual em Macau está reflectido muito do espírito do que é Macau, da terra de contrastes que é, sempre foi e sempre será.
Mas também da terra de tolerância e de abertura a novos valores, a diferentes povos e culturas, por muito que isso ainda seja complicado de entender para algumas pessoas.
E esta é uma das tarefas primordiais de um católico caro Paul Chan Wai Chi, sobretudo no pleno exercício da sua cidadania - aceitar opiniões diametralmente opostas às nossas, porque todas as pessoas têm direito à opinião, mas não ter medo de levantar a voz para exprimir a sua discordância e indignação quando sente que o deve fazer.
Independentemente dos obstáculos, temos o dever de fazer o caminho ravina abaixo.

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